Serras Gerais em Tocantins precisa ser conhecida! Eu sou do RJ e por lá as pessoas só pensam em Jalapão quando escutam falar nesse estado.
Eu conheci bastante as duas regiões e preciso ser sincera: eu gostei bem mais de Serras Gerais. Claro que gosto é pessoal, mas fiz este texto exatamente para compartilhar a experiência que tive.
Então vou contar por qual motivo considero Serras Gerais mais interessante e muitas dicas para você programar uma viagem para lá: sobre como ir, onde se hospedar, o que fazer e mais.
Onde fica Serras Gerais?
Primeiramente, Serras Gerais fica no sudeste de Tocantins. É bem próxima do Jalapão e algumas cidades de Serras Gerais já são até perto da fronteira com a Bahia e com Goiás.
A região é composta por vários municípios e distritos. As principais cidades que fazem parte do lugar são Rio da Conceição, Almas, Aurora do Tocantins, Natividade, Dianópolis, Paranã, Arraias e Taguatinga. Além disso, muitas outras não são oficialmente do parque mas ficam nas redondezas e oferecem atrativos interessantes.
Onde ficar nas Serras Gerais para dormir?
Eu me hospedei em Rio da Conceição e Almas e achei que a experiência foi ótima. Mas essas são cidades menores e com pouca infraestrutura.
Então se você prefere opções mais movimentadas, recomendo se hospedar em Dianópolis.
Algumas pessoas se perguntam se vale a pena dormir um dia em cada cidade ou escolher um local como base e fazer bate e volta.
Como você faz passeios todos os dias, acaba acumulando roupas de banho molhadas quando dorme um dia em cada lugar, porque não dá tempo de secar.
Por isso, eu achei que valeu muito a pena ficar alguns dias em Rio da Conceição aproveitando a estrutura do local. Além disso, os atrativos não são tão distantes desta cidade base, então eu me deslocava relativamente pouco para chegar em cada lugar.
Eu recomendo (demais) a Pousada Cerrado Nativo. A dona Eliene, que cuida do lugar e é a cozinheira de lá, recebe você com muito amor e histórias para contar.
Além disso, a comida dela é uma das melhores que já experimentei e isso fez toda a diferença na experiência do passeio. Ela é tão carinhosa que ouviu eu comentar que gostava de cupuaçu com leite e fez um dia para o café da manhã. São detalhes que tornam a nossa viagem muito mais gostosa.
Já na cidade de Almas eu me hospedei um dia no seu Davi, dono da Pousada Vale dos Pássaros. Essa é a propriedade em que se encontram a Cachoeira do Cortina e a Cachoeira do Urubu-rei e vale muito a pena você já acordar lá.
Além disso, o lugar é muito aconchegante e rústico, ideal para quem realmente aprecia o ecoturismo. Você pode tanto acampar quanto ficar em quartos privados, tudo simples mas bem limpo e organizado.
Como chegar em Serras Gerais?
Não tem aeroporto em Serras Gerais. Então você precisa pegar um voo para Palmas e se deslocar de lá.
De Palmas para Rio da Conceição são 375 km e você demora mais de 4 horas para chegar. Eu achei a estrada para lá boa e com poucos buracos.
Você pega caminho de terra apenas das cidades até os atrativos, mas mesmo assim são estradas relativamente lisas.
Em algumas cidades você consegue chegar de ônibus, mas eu nem considero essa como uma opção porque você precisa de carro para chegar nos atrativos. Ou seja, ou alugue um carro para visitar a região ou feche um pacote com uma agência.
Dá para ir sozinho ou precisa de agência?
Eu geralmente quero fazer tudo sozinha e evito ao máximo contratar agências para não ficar presa a roteiros. Porém, tanto em Serras Gerais quanto para o Jalapão eu não recomendo você fazer por conta própria, mesmo que esteja em grupo.
Conforme você vai entrando no interior do estado, não tem placas nem sinal de celular e as estradas são de terra. É comum carros atolarem ou passarem por outros problemas e as pessoas não conseguirem se comunicar pela falta de sinal.
Por esses motivos, eu recomendo você fechar um pacote para Serras Gerais com uma empresa que seja regularizada e tenha seguro. Dessa forma, você tem a certeza de que, se passar por qualquer problema, receberá ajuda rapidamente.
Pacote para Serras Gerais
Você vai encontrar diversas opções de pacotes para Serras Gerais, geralmente com tudo incluído: hospedagem, passeios, alimentação.
Eu recomendo você ficar o máximo de tempo que puder. Fiz o tour de 5 dias e deu pra rodar bastante pela região. Mesmo assim, ainda deu um gostinho de quero mais.
Eu fechei com a Seriema Ecoturismo, uma das empresas mais tradicionais da região. Gostei muito do meu guia e das refeições durante o passeio. Você também pode contatar a Seriema pelo WhatsApp para pedir mais informações ou até solicitar um orçamento de roteiro personalizado.
Roteiro
O pacote de 5 dias para Serras Gerais que fiz com a Seriema segue o seguinte roteiro:
- Dia 1: Translado Palmas – Rio da Conceição, hospedagem na Pousada Cerrado Nativo. Almoço e passeio 17 travessias e Cachoeira do Brejo Limpo. Depois Mirante do Cerrado e volta para a janta.
- 2° dia: Manhã na Lagoa da Serra e volta para almoço. Boia cross no Rio Manuel Alves no início da tarde e Farinhada do Preto no fim do dia. Depois retorno para o jantar.
- Dia 3: Manhã no Rio Azuis e almoço por lá. Início da tarde na Praia do Pequizeiro e fim do dia na Cachoeira do Sombra. Retorno para jantar na Pousada Cerrado Nativo.
- 4° dia: Translado Rio da Conceição – Pousada Vale dos Pássaros do seu Davi, em Almas. Cerca de 2 horas de viagem. Ainda pela manhã fomos nas Cachoeira do Urubu-rei e Cachoeira da Cortina. Almoço no seu Davi e pela tarde passeio da ancoragem na Cachoeira da Cortina. O fim do dia é no Arco do Sol.
- Dia 5: O último dia é todo na propriedade do Cânion Encantado, que oferece diversos atrativos. Começamos fazendo a trilha do cânion até a Cachoeira do Elias. Depois retornamos para almoçar no restaurante do cânion. Pela tarde conhecemos a Cidade de Pedra e a Cachoeira dos Pelados. Depois retornamos para Palmas.
Quantos dias para conhecer Serras Gerais?
Eu recomendo, no mínimo, 4 dias. Mas se você puder passar mais tempo, passe.
Com mais dias disponíveis, você pode, por exemplo, conhecer a cidade histórica de Natividade, que foi a primeira cidade fundada do estado e tem atrativos bastante interessantes.
Por que eu preferi Serras Gerais ao Jalapão?
Como eu sempre falo, essa é uma questão de gosto pessoal. Eu sou apaixonada por trilhas e Serras Gerais é rodeada delas. Já no Jalapão você chega de carro em praticamente todos os atrativos, sem precisar caminhar no meio da floresta para chegar aos fervedouros e cachoeiras.
Além disso, Serras Gerais é bem mais rústica e com menos estrutura do que o Jalapão. Isso pode ser uma desvantagem para muitas pessoas, mas, para mim, é um ponto muito positivo porque você consegue conversar bastante com os locais e de fato entender a cultura do interior do Tocantins.
O Jalapão já é tão visado que boa parte dos atrativos tem tempo máximo de permanência. Então você precisa esperar para entrar no lugar e só pode ficar 20 ou 30 minutos nele. Já Serras Gerais é bem menos turístico e lotado. Então você aproveita bem mais os paraísos de lá, muitas vezes só para você.
Eu também achei os atrativos do Jalapão mais distantes uns dos outros. Então você passa muito tempo no carro em estradas de chão, o que é cansativo e desconfortável. Apesar de as estradas de Serras Gerais também serem de terra, elas são consideravelmente melhores e mais lisas.
Ou seja, em Serras Gerais você cansa de trilhas. No Jalapão você cansa de ficar muito tempo no carro. Essa foi a minha percepção. Por outro lado, o Jalapão é mais acessível para pessoas de qualquer idade e com mobilidade reduzida.
E tem mais. O meu passeio preferido na excursão do Jalapão foi para a Lagoa do Japonês, um lugar que, na verdade, pertence a Serras Gerais.
Eu também achei as refeições de Serras Gerais muito melhores do que as do Jalapão. Mas em relação às hospedagens em si, as do Jalapão tem bem mais estrutura e recursos.
Qual é a melhor época para fazer essa viagem?
Essa não é uma pergunta fácil de responder. Muitas pessoas recomendam a alta temporada, no meio do ano, mas eu com certeza evitaria essa época.
Por um lado, praticamente não há chuvas de maio a novembro. Por outro, o calor é realmente muito forte e os atrativos estão lotados de gente. Para quem tem medo de animais peçonhentos, essa também é a época em que eles mais aparecem.
Eu viajei na baixa temporada, mais especificamente em março. Os atrativos estavam praticamente só para o meu grupo e o calor era bem ameno, o que foi uma grande vantagem. Ao mesmo tempo, tivemos que parar o passeio do boia cross porque começou a chover com raios e ficou perigoso.
Mesmo assim, a chuva atrapalhou bem pouco o passeio e eu achei que valeu a pena conhecer Serras Gerais em março.
Eu recomendo o mês de maio porque ainda não está tanto calor, os atrativos também não ficam com tantos turistas e é o início do período da seca. Ou seja, as cachoeiras ainda estão com bastante água e bem bonitas.
O que fazer nas Serras Gerais em Tocantins?
Primeiramente, preciso ressaltar que é proibido visitar a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, sendo restrita à população quilombola. Todos os passeios que fazemos é na região de Serras Gerais, mas não dentro do parque.
Vou contar mais aqui sobre os principais passeios de lá e como foi minha experiência em cada atrativo.
Cânion Encantado – Serras Gerais
Esse é, com certeza, um dos atrativos mais famosos de Serras Gerais em Tocantins. E, inclusive, muitas empresas que operam no Jalapão levam os turistas para lá. Mas o atrativo faz parte de Serras Gerais!
Essa propriedade, apesar de levar o nome do cânion, tem diversos outros atrativos. Até um programa Largados e Pelados foi gravado lá, dando, inclusive, nome a uma das cachoeiras – Cachoeira dos Pelados. Outras famosas são a Cachoeira da Capivara e a Cachoeira do Portal. Tudo isso você pode comprar ingressos separados ou um combo que dá acesso a diversas trilhas da propriedade.
O carro chefe do local realmente é a Cachoeira do Elias, em que você faz uma trilha de 5,3 km ida e volta para chegar ao cânion e, dependendo da época, pode fazer uma trilha aquática na fenda do cânion até acessar outras cachoeiras. Vale ressaltar que existem mais de 300 degraus nessa trilha, podendo ser bastante cansativa para quem não costuma fazer exercícios.
Você também pode fazer outras trilhas mais curtas para ver mirantes a fim de apreciar o cânion de cima.
Por fim, mas um dos meus locais preferidos de lá, há a trilha de 4,5 km ida e volta para a Cidade de Pedra. Só de olhar o lugar você entende por que ele chama assim. Parece cenário de filme. Eu fiquei realmente impressionada.
Essa é uma trilha plana e só é realmente cansativa se estiver muito sol, porque ela é bem aberta.
Cachoeira da Cortina e Cachoeira do Urubu-rei
Pensei muito sobre qual foi meu atrativo preferido em Serras Gerais e acho que esse leva o prêmio. Eu realmente amei a experiência de visitar esse lugar e fiz algo pela primeira vez: uma ancoragem. Vou explicar melhor para você.
As duas cachoeiras são acessíveis por trilha e você pode mergulhar nelas à vontade. Além das quedas d’águas em si, eu achei a trilha extremamente bonita porque você vai observando aqueles paredões vermelhos da serra, que lembram até a paisagem das chapadas do nosso país.
E agora vem o momento chave do passeio: a ancoragem na Cachoeira da Cortina. Você consegue alcançar o topo dela e ficar preso por uma corda para ficar exatamente em cima da queda.
O lugar não escorrega e eu me senti bastante segura lá. E olha que estava chovendo quando fiz esse passeio. Mesmo assim, eu achei incrível poder ver a queda de cima junto com aquela paisagem.
E ao lado da queda da Cachoeira da Cortina ainda fica uma outra cachoeirinha que você pode aproveitar quando fizer a ancoragem.
Se você não tiver medo de altura e gostar de aventura, vai amar a experiência porque é realmente diferente.
Lagoa do Japonês
Como explicar esse lugar? Só agradeço pela oportunidade de ter conhecido. A Lagoa do Japonês é realmente um dos locais mais bonitos de Tocantins e do Brasil.
Quase toda excursão do Jalapão vende passeio para lá, mas esse é mais um atrativo que pertence a Serras Gerais.
Pensa em uma lagoa bem grande de água incrivelmente azul e totalmente cristalina, em que você consegue enxergar todos os peixes, fendas e vida marinha rica embaixo.
No final dela, ainda tem uma gruta que você consegue atravessar nadando. Eu achei o lugar realmente fantástico. Se você tiver máscara e snorkel, vale muito a pena levar.
Passeio 17 travessias Serras Gerais
Esse foi o primeiro passeio que fiz em Serras Gerais já para começar a viagem com o pé direito.
Ele tem esse nome porque você faz uma trilha aquática e atravessa 17 poços. Como a trilha é ida e volta, na verdade você passa por 34 poços d’água.
Eu nunca tinha feito uma trilha aquática dessa forma. Você realmente caminha pelo meio do rio, subindo quedas d’água. É uma sensação de aventura muito gostosa, mas sem você sentir que é perigoso.
Vale ressaltar que o sapato aquático é obrigatório nesse passeio. Isso faz toda a diferença para você não escorregar e pisar nas pedrinhas do rio sem machucar o pé.
Boia cross no Rio Manuel Alves
Esse é um passeio que começa na Cachoeira do Cavalo Queimado e vai descendo o Rio Manuel Alves por cerca de 1h30min.
Ele tem dois níveis. Primeiramente, você começa o boia cross no nível 1, com poucas corredeiras, até ir se acostumando com a experiência.
Depois de um tempo, você chega no nível 2 que tem corredeiras mais extensas e frequentes. Para quem gosta de aventura, esse é o momento mais legal.
Você não precisa se preocupar porque vão guias especializados nesse passeio com você, descendo o rio junto e pertinho de você todo o tempo.
No dia do boia cross no Rio Manuel Alves, infelizmente estava chovendo bastante e eu só consegui fazer 20 minutos de passeio porque começou a ter raio. Então segurança em primeiro lugar.
Praia do Pequizeiro e Cachoeira do Sombra
A Praia do Pequizeiro fica perto de outras praias de rio por ali, como a do Puçá, que também é bastante famosa.
Ela é um lugar bem gostoso de água cristalina para você relaxar. Também é uma ótima opção para quem está com crianças.
E bem perto dali fica a Cachoeira do Sombra. Então, dependendo se você gostar mais de cachoeira ou de rio, pode escolher em qual parte do lugar ficar.
Lagoa da Serra
Esse é um lugar para todas as idades. A Lagoa da Serra é um espaço bem tranquilo para você relaxar e passar um bom tempo curtindo o sol e a água clarinha.
Um diferencial desse lugar é a sua vista para os paredões vermelhos de Serras Gerais, o que eu considero realmente bonito.
Para quem gosta de caminhar, ainda pode dar a volta na lagoa. Eu fiz isso e foi bem rapidinho, não demorei nem 30 minutos.
Farinhada do Preto
A Farinhada do Preto é um atrativo bastante diferente do que costumamos encontrar em Serras Gerais. Esse é o lugar em que você aprende a fazer tudo da mandioca e o quanto ela é rica.
E você ainda pode participar da produção da farinha. Lá você entende como se faz tapioca, farinha, biju, e entende como realmente se aproveita tudo da mandioca, até o caule.
No final da experiência, você ainda experimentará o melhor biju da sua vida – promessa dos donos da casa que eu comprovo!
O seu Preto e a dona Edilene são pessoas muito queridas e acolhedoras, que eu adorei conhecer e conversar.
Mirante do Cerrado
Esse é realmente só um mirante em que você tem uma vista bem ampla do Cerrado. A vegetação por ali é bem extensa e o interessante é que você enxerga bem as suas variações.
O guia me explicou que de um lado é Cerrado e do outro Amazônia. Então você observa o encontro dos biomas e consegue perceber bem as diferenças entre eles. Achei isso muito interessante.
Rio Azuis
Esse é um atrativo bem famoso em Serras Gerais, mas confesso que foi um dos que achei mais sem graça. Não quero ser injusta. A água do Rio Azuis é realmente transparente e muito clarinha. E é muito bonito ver a sua nascente, com aquela água brotando da pedra e os peixinhos nadando ao redor.
Ele também se destaca por ser o menor rio da América do Sul e terceiro menor do mundo, o que é uma curiosidade interessante.
Mas eu achei que o turismo já fez o atrativo perder um pouco do seu encanto. Como o rio é pequeno e é bem famoso, ficam muitas pessoas em um curto espaço. Nos dias mais lotados, você ainda pode dar o azar de encontrar aqueles que colocam caixas de som e não se preocupam com a tranquilidade do lugar.
Eu gostei mais de ficar nos acessos do rio que você chega pelos restaurantes, porque são mais vazios e tranquilos, além de serem bem transparentes e bonitos também.
Arco do Sol
Pelo nome, você pode imaginar que esse é um lugar bonito para ver o pôr do sol. Mas o local também forma construções geológicas bem interessantes e rende belas fotos.
Quando estive lá, ainda vi um raro casal de araras-azuis passando, o que fez eu ganhar meu dia.