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Por que largar tudo e viajar o mundo?

Desemprego. Futuro. Viajar sozinha. Preocupação da família. São temas sempre presentes nos questionamentos que recebo sobre pedir demissão em tempo de crise, deixar o apartamento em que vivo e me jogar no mundo sem data para voltar.

Afinal, qual o verdadeiro motivo por trás dessa escolha? De onde vem toda essa inquietação? É uma decisão infantil e irresponsável ou a mais acertada da minha vida?

Um pássaro trancado na gaiola não canta como antes, já alertava Renato Russo.

Tenho a síndrome de Wanderlust. Sou curiosa. E tenho sede de conhecimento. Conheço a felicidade em sua versão mais pura e intensa. Arrepender-me depois de anos por viver uma vida medíocre não é uma opção.

Por que viajar é tão enriquecedor e vale a pena? Vamos lá.

Entender culturas e pessoas te torna menos preconceituoso e uma pessoa melhor

Ao viajar, você vê de perto lugares que só conhecia pela internet, televisão ou pela boca dos outros. Ao longo de nossa vida, sem perceber criamos estereótipos de lugares, povos, religiões. Pré conceitos provenientes das opiniões de outras pessoas.

É maravilhoso ter nossas próprias percepções e criar uma imagem a partir de experiências reais. Isso faz com que desfaçamos preconceitos, que muitas vezes nem sabíamos que tínhamos. Isso nos torna mais tolerantes e pessoas melhores.

Sempre ouvi que a religião muçulmana é conservadora, machista e opressora. Que europeus não tomam banho. Que a África é sinônimo de pobreza e doença.

Fiz amigos de diferentes partes da África. Me mostraram um continente ímpar, com pessoas inteligentes e lugares de dilatar a pupila. Beijei tantos europeus que, se realmente não tomassem banho, eu teria percebido. E quando fui ao Marrocos, o que encontrei foram pessoas esclarecidas e apaixonadas por sua religião, de uma forma tão genuína que me deu vontade de ler o Corão.

Descobri que, na verdade, a religião muçulmana fala sobre tolerância, respeito e muito amor ao próximo. Aí você percebe que toda generalização é burra e não deve permitir que a imagem de um grupo específico represente toda uma população.

Conhecer diferentes realidades proporciona mais coerência nas opiniões sobre o próprio país

No Brasil, é comum as pessoas reclamarem do país e afirmarem que outros lugares, como Europa e EUA, são melhores. Quando você visita os supostos locais perfeitos, observa de fato como eles são e cria uma opinião mais coerente para compará-los com o Brasil.

Logo após minhas primeiras viagens internacionais, passei a valorizar bastante as medidas adotadas pelo Brasil para reduzir o consumo de cigarros e fumantes. Na China, presenciei pessoas fumando até em plataformas de metro. Em espaços comuns de hotéis era difícil respirar.

Em Portugal, adquiri o hábito de almoçar em casa pois não suportava o ambiente dos restaurantes ao comer com fumaça no rosto todo o tempo. Eu não prestaria atenção em como o Brasil é avançado neste tema se não tivesse passado por essas experiências.

Saúde é outro tema que me surpreendeu. Apesar dos incontestáveis problemas brasileiros de falta de médicos, materiais e infraestrutura, nossa saúde é pública e conta com profissionais qualificados.

Na Europa, em diferentes situações precisei de atendimento e me decepcionei com o descaso dos médicos em consultas rápidas e poucos eficientes. Nossos médicos costumam ser atenciosos e dedicados aos pacientes. Reforço que não devemos generalizar. Mas é importante reconhecer nossas qualidades e forças.

Viajar gera maior compreensão de mundo e te torna mais culto

Quando fui à Varsóvia, fiz couchsurfing por alguns dias na casa de uma polonesa. Estava entusiasmada para conversar com ela e entender melhor o povo do país. Eu tinha alguns amigos poloneses e os achava curiosos. Pareciam pessoas energéticas e, ao mesmo tempo, extremamente fechadas. Uma combinação interessante que despertava meu interesse em compreender.

Minha host me explicou o impacto da Segunda Guerra no país. Eu já sabia que a Polônia havia sido um dos países mais afetados mas, quando os números viram relatos de pessoais reais, a História fica mais palpável e a gente começa a entender melhor como as pessoas se sentiam e como os comportamentos da sociedade moderna foram moldados pelo passado.

Ela me contou que os poloneses têm extrema dificuldade de se relacionar. Os anos os tornaram reservados, desconfiados, com medo de se abrir e amar. Tudo pelo que sofreram com o Nazismo e os anos de miséria que vieram em seguida. Assim, muitos relacionamentos terminam por as pessoas não conseguirem se aproximar como gostariam.

Eu não teria esta percepção sozinha.  Achava diferente o jeito polonês de ser, mas não faria a conexão com a Segunda Guerra e os impactos políticos e sociológicos relacionados.

É maravilhoso conhecer pessoas que somam, ampliam sua visão de mundo e te contam histórias de seu país que você não encontrará nos livros e documentários.

Isso expande seu conhecimento. Te torna mais culto e empático.

Viajar sozinho permite conhecer a si mesmo

Viajar é uma descoberta. Para dentro. É mergulhar em reflexões e curtir a própria companhia. Quando está sozinho, você faz o que quer, e não a vontade do grupo. Isso te permite conhecer seu verdadeiro estilo de viagem, saber o que gosta de fazer e quais lugares mais curte ir.

Descobri que prefiro despertar às sete para andar uma cidade inteira do que madrugar na balada mais famosa do lugar sem hora para acordar. Também é meu estilo percorrer quilômetros de diferentes praias do que passar horas na mesma relaxando no lugar.

Esse autoconhecimento só foi possível quando me permiti viajar sozinha e descobrir minhas preferências.

Para mim, a melhor parte é estar mais aberto a se conectar. Com pessoas, com a natureza. Quando estou sozinha, posso parar meia hora em frente a uma cachoeira apenas para observá-la. Sentir a paz que a natureza transmite, me emocionar com a beleza do lugar. Em grupo, paro apenas cinco minutos para tirar uma foto e poder seguir ao próximo ponto turístico.

Sozinhos também somos mais abertos a conhecer pessoas. Isso nos traz experiências ricas e entendemos melhor a cultura de outros países do mundo. É, ainda, uma oportunidade de falar outras línguas. Desenvolver esta habilidade é mais difícil quando se viaja apenas com brasileiros.

Estar sozinho e se bastar é um privilégio. Saibamos aproveitar.

7 comentários em “Por que largar tudo e viajar o mundo?”

  1. Maravilhoso POST minha prima ????? Gostei de tudo! Da sua percepção com várias questões e nunca generalizando, e sim pontuando com as palavras o que realmente você viu e sentiu. E como todos nós vemos um país de uma forma, e realmente não o conhecemos. Além claro da falta de volitizarmos o nosso pais. Afinal também, tododos nós somos do Universo. Só nascemos no Brasil. Mas somos livres para sermos o que quisermos e como no seu texto, sim, é possível viajar sozinho. Adorei! ❤️

    1. Incrível JO. Viajar é isso, é a cada passo no chão dar mil passos na alma.
      Continue aprendendo e a gente vai junto.

  2. Muita verdade em suas palavras, Jô. Como diria Amyr Klink, grande explorador brasileiro
    “Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.”
    <3

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